Fome é uma investigação fotográfica inspirada em Geografia da Fome, obra fundamental de Josué de Castro publicada há oitenta anos. Castro argumentava que a fome no Brasil nunca foi resultado do clima, do solo ou de alguma escassez natural, mas sim uma construção histórica e política, enraizada na colonização, na concentração de terras e na desigualdade estrutural. Sua tese desmontou a ideia da fome como destino ambiental e a reconstruiu como uma geografia moldada pelo poder e pela exclusão.
Fome amplia esse legado intelectual para o presente. Embora Castro defendesse que o clima não era um fator determinante, hoje as mudanças climáticas se tornaram um novo motor de desigualdade, aprofundando as vulnerabilidades que ele descreveu. Secas extremas, enchentes destrutivas, quebras de safra e colapsos provocados pelo desmatamento empurram regiões inteiras — especialmente o Nordeste, a Amazônia e o Sul — para formas ainda mais graves de insegurança alimentar. Esses impactos não contradizem a tese de Castro; eles intensificam suas consequências.
Fome é uma exploração de cinco anos sobre a vida cotidiana em um país que, ao mesmo tempo em que é um dos maiores produtores de alimentos do mundo, ainda convive com milhões de pessoas passando fome. Depois de sair do Mapa da Fome da ONU em 2014, o Brasil voltou a figurar nele entre 2019 e 2021, quando mais de 61 milhões de pessoas enfrentaram insegurança alimentar e mais de 15 milhões sofreram fome. Embora o país tenha sido novamente retirado do mapa, a privação persiste como uma ferida estrutural alimentada pela desigualdade, pelo desmonte de políticas públicas e pela profunda polarização política.
Fome se desenvolve em temas como política, religião, moradia, violência, desastres ambientais, agricultura e a pandemia — mapeando as contradições que definem a sociedade brasileira. É o retrato de um país onde a vitalidade convive com o abandono, onde as aspirações coletivas colidem com injustiças históricas e onde a velha promessa de ser “o país do futuro” permanece suspensa.
Revisitando Geografia da Fome como lente e alerta, Fome é um inquérito sobre o duradouro paradoxo alimentar brasileiro: uma terra de abundância onde a privação continua disseminada, agora agravada pelas mudanças climáticas e pelo aprofundamento das divisões sociais.
Flores artificiais decoram um micro-ondas dentro de uma casa simples no Jardim Peri Alto, em São Paulo.
Durante as celebrações de Iemanjá em Salvador, pipocas e a estátua de Nossa Senhora foram deixadas como oferenda na praia do Rio Vermelho.
Um homem brinca e mostra uma galinha antes de cozinhá-la na favela de Jardim Gramacho, em Duque de Caxias, Rio de Janeiro.
Maria Leal de Souza (81) é retratada em um momento de aflição dentro de sua casa sobre palafitas na comunidade ribeirinha de Santa Ana, em Melgaço, no estado do Pará — o município com o menor índice de desenvolvimento socioeconômico do Brasil. Sem acesso à energia elétrica, os moradores de Santa Ana enfrentam a fome diariamente. Maria está há três dias sem fazer uma refeição adequada, sobrevivendo apenas com uma pequena porção de farinha.
Povos indígenas Kanamari vivem em acampamentos improvisados ao longo do rio Javari, enfrentando extrema pobreza. Eles chegaram a Atalaia do Norte em busca de benefícios de assistência social, mas barreiras burocráticas e o alto custo do combustível os mantêm presos em condições precárias, sem acesso à água potável e expostos a doenças em ambientes insalubres.
Dois meninos caminham sob uma torre de energia elétrica a caminho do rio onde vão se banhar, em Breves, cidade localizada na Ilha de Marajó, no estado do Pará. A região apresenta o menor índice de desenvolvimento socioeconômico do país.
Um funcionário trabalha em um armazém de soja da Cooavil, cooperativa do agronegócio em Sinop, Mato Grosso. O Brasil lidera as exportações de soja, gado e café e, em 2023, tornou-se o maior exportador mundial de farelo de soja. Embora a agricultura empresarial avance rapidamente, 76,8% dos estabelecimentos rurais ainda são propriedades familiares. Mesmo assim, o cultivo de soja e a pecuária seguem entre os principais motores do desmatamento na Amazônia.
Comunidade da favela de Paraisópolis, em São Paulo — uma das áreas com maior densidade demográfica do país.
2024. Aldemilton (9) e José (5) em sua casa sobre palafitas na comunidade ribeirinha de Santa Ana, em Melgaço — o município com o menor índice de desenvolvimento socioeconômico do Brasil. A comunidade não tem acesso à energia elétrica, e seus moradores, incluindo os dois irmãos, frequentemente passam dias sem refeições adequadas, enfrentando fome.
Mandioca e cabeças de peixe no acampamento indígena Ywuverá, em Dourados (MS). Para alguns moradores, esta é a primeira refeição em dois dias. A área é reivindicada como território tradicional, mas ainda não foi reconhecida. Os Guarani-Kaiowá perderam suas terras para fazendeiros desde o século XIX e, apesar da Constituição garantir o direito à demarcação, o processo pode levar décadas. A falta de território agrava a insegurança alimentar e a desnutrição na comunidade.
Uma criança se suja depois de comer açaí em uma comunidade ribeirinha próxima ao município de Breves, na Ilha do Marajó, Pará. A região apresenta alguns dos piores indicadores socioeconômicos do país. Uma das atividades mais produtivas é a colheita do açaí, que se tornou uma commodity valiosa e encareceu. A crescente demanda global tem limitado o acesso das comunidades locais ao fruto e levantado preocupações entre pesquisadores sobre os impactos na biodiversidade da floresta.
Pescadores descarregam a pesca de seus barcos em Belém, Pará.
Milho pendurado dentro de uma casa de reza na comunidade Guarani Kaiowá retomada de Yvu Vera 1, próxima a Dourados e à Reserva Indígena Jaguapiru, em Mato Grosso do Sul.
Vila da Barca, Belem, Pará.
Dentro do barraco de um morador do assentamento Tereza de Benguela, uma ocupação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) na periferia de Maceió, capital de Alagoas.
Uma jovem almoça arroz e feijão enquanto usa o celular no assentamento ocupado Tereza de Benguela, do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), na periferia de Maceió, capital de Alagoas.
Quarto simples de uma família de baixa renda que vive em uma comunidade periférica e favelizada do Recife, Pernambuco.
Uma cruz católica quebrada repousa na favela Parque Vila Nova, em Duque de Caxias, na região metropolitana do Rio de Janeiro.
A destruição deixada por um deslizamento de terra após chuvas torrenciais no distrito de Barra do Sahy, em São Sebastião, litoral de São Paulo.
Duas crianças em um barraco dentro da Anchieta, uma comunidade ocupada na zona sul de São Paulo.
Marcelina Paulo, 89 anos, se emociona ao lembrar da mulher e da menina — suas vizinhas na retomada Guarani Kaiowá de Avaeté, perto de Dourados — que morreram em um incêndio no barraco em 30 de março de 2025. A causa ainda é investigada, mas Marcelina e sua filha, Elza, acreditam que fazendeiros estejam envolvidos. Pelo Mato Grosso do Sul, os Guarani Kaiowá seguem retomando terras ancestrais, enfrentando violência, demora na demarcação e constantes violações de direitos.
Um busto do ex-presidente Jair Bolsonaro é exibido dentro de uma redoma feita com cartuchos deflagrados no American Shooting Club, na Barra da Tijuca. Durante seu governo (2019–2022), o Brasil voltou a registrar aumento da insegurança alimentar, retornando em 2021 ao Global Hunger Index como um país em situação “grave”.
Apoiadores de Jair Bolsonaro protestam no centro de Boa Vista, enquanto a cidade continua marcada pelos efeitos do garimpo ilegal que, por anos, utilizou Boa Vista como base logística para a invasão da Terra Indígena Yanomami. A atividade provocou uma grave crise humanitária: surtos de malária, contaminação por mercúrio, violência e um quadro alarmante de desnutrição infantil entre os Yanomami. Mesmo com operações federais de combate ao garimpo, os impactos dessa destruição ainda são profundos e persistem na região.
Apoiadores de Lula comemoram sua vitória eleitoral na Avenida Paulista, em São Paulo, abrindo uma bandeira do Brasil. Nos últimos anos, o símbolo nacional se tornou cada vez mais politizado, sobretudo pelo uso feito pelos apoiadores de Jair Bolsonaro para marcar sua identidade política. Esse processo intensificou a polarização no país, transformando a bandeira em um sinal de alinhamento partidário, em vez de um símbolo capaz de unir a nação.
Um menino joga futebol na rua do conjunto habitacional Leblon, em Anápolis, Goiás. Desenvolvido durante a gestão do prefeito João Gomes, o bairro integrou o programa Minha Casa, Minha Vida, criado para oferecer moradia acessível a famílias de baixa renda. Localizado na região Centro-Oeste, o estado de Goiás abriga cerca de 3,3% da população brasileira e responde por 2,7% do PIB nacional.
Marina Cantão dos Santos, 69 anos, foi garimpeira em território Yanomami entre 1987 e 1989. Ela permaneceu perdida na mata por três meses após uma operação policial venezuelana, sobrevivendo ao comer as páginas de seu caderno, seus documentos e até sua carteira de trabalho. Marina começou no garimpo em Serra Pelada, onde se disfarçou de homem, já que mulheres não podiam trabalhar na busca por ouro na época.
Manifestantes Kayapó Mekragnotire bloqueiam a rodovia BR-163 por três dias, nas proximidades de Novo Progresso (PA), exigindo que o então presidente Jair Bolsonaro tomasse medidas contra o avanço de garimpeiros e invasores de terra em seu território. O grupo também pedia maior proteção contra a Covid-19, a ampliação das compensações relacionadas à construção da rodovia e consulta prévia adequada sobre a Ferrogrão — projeto ferroviário apoiado por investimentos chineses e planejado para escoar soja e milho pela região.
Apoiadores do candidato de direita Paulo Pontes participam de um ato em São Gabriel da Cachoeira, Amazonas, usando caminhonetes e motocicletas para promover sua campanha nas eleições municipais. São Gabriel é considerado o município mais indígena do Brasil: cerca de 90% de sua população, distribuída entre áreas urbanas e rurais, se identifica como indígena.
Maria e sua filha, indígenas Paumari, deixam o porto de Lábrea para retornar à sua aldeia no Amazonas. Antes preservada, Lábrea tornou-se um dos novos epicentros do desmatamento, com índices que cresceram treze vezes em uma década. O avanço da derrubada e das queimadas tem forçado comunidades indígenas isoladas a buscar alimentos e suprimentos em centros urbanos como Lábrea.
Uma menina emerge de uma caixa d’água no acampamento Tereza de Benguela, ocupação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) na periferia de Maceió, capital de Alagoas. Ali, 204 famílias vivem em condições de extrema pobreza, muitas delas sem conseguir garantir sequer uma refeição por dia.
Uma vista de um mercado informal de peixe que surgiu nas margens secas do Rio Negro, em Manaus, devido à forte estiagem. A seca afetou a logística do porto e do Mercado Municipal, fazendo crescer diversas atividades informais na área para facilitar o transporte de produtos das embarcações até o centro comercial. O nível das águas no porto de Manaus atingiu o ponto mais baixo em pelo menos 121 anos.
Um vendedor ambulante prepara e vende espigas de milho assadas à beira da estrada, nos arredores de Teófilo Otoni, no estado de Minas Gerais.
2023. Mangas, margarina e castanhas-de-caju são dispostas sobre uma mesa em uma comunidade ribeirinha vulnerável na Ilha de Marajó, próxima à cidade de Breves, no Pará. A região está entre as mais baixas do país em indicadores de desenvolvimento socioeconômico. Muitas comunidades não têm acesso à eletricidade e enfrentam insegurança alimentar, dependendo de ingredientes locais — como manga, açaí e farinha — para subsistência.
Helena Santos Gonzaga, de 2 anos, vive com a mãe, Ludmilla, de 25, em um pequeno estúdio dentro de um prédio ocupado no centro de Salvador, Bahia. Ludmilla enfrentou uma infância marcada por abusos e deixou a família aos oito anos, passando a sobreviver nas ruas. Hoje, faz o possível para oferecer uma vida melhor à filha, mesmo diante da dificuldade constante de conseguir comida. O estúdio é o primeiro teto de verdade que Ludmilla já teve. Apesar das adversidades, ela conseguiu criar para Helena um espaço acolhedor, decorado com bonecas.
Um pescador toma café da manhã com limão, cerveja e mortadela em Salvador, Bahia.
Salvador de Bahia
Maria Medina (82), mulher indígena Guarani que vive em uma pequena palhoça próxima à comunidade Serrito, em Mato Grosso do Sul, enfrenta insegurança alimentar em meio a disputas por terra, isolamento e falta de trabalho. Como muitas famílias da região, ela luta para conseguir comida todos os dias.
Linguiça, bacon e outros embutidos vendidos no Mercado Modelo, em Salvador.
Bodes amarrados e colocados em uma carroça no Mercado Modelo, em Salvador (BA). O mercado é um ponto tradicional de venda de animais utilizados em oferendas rituais do Candomblé e da Umbanda, religiões de matriz africana no Brasil. Esses animais são oferecidos como presentes às divindades como parte de práticas espirituais e cerimoniais.
Um cavalo ferido durante uma competição de “pega do boi” na caatinga, próximo a São Sebastião do Umbuzeiro, no estado do Piauí. A caatinga é a maior floresta seca da América do Sul e uma das regiões mais ricas em biodiversidade no mundo. A prática da “pega do boi” — ligada ao costume do vaqueiro de capturar o gado solto na mata — é comum no Nordeste e tem raízes que remontam ao século XIX. Hoje, assim como a própria caatinga, essas tradições estão ameaçadas pelo avanço da degradação ambiental, pela perda de vegetação e pelas mudanças nas paisagens locais.
A cozinha improvisada de garimpeiros foi incendiada pelo Ibama durante uma operação para desativar um garimpo ilegal no interior da Terra Indígena Yanomami.
O processo de abate ocorre no frigorífico Sita, em Uruará, no estado do Pará. Segundo maior produtor de carne bovina do mundo e líder nas exportações — tendo Hong Kong, China e Rússia entre seus principais compradores — o Brasil segue no centro do mercado global. Ainda assim, em meio a tanta abundância, milhões de brasileiros continuam enfrentando insegurança alimentar.
Um porco inteiro assando na grelha do restaurante A Casa do Porco, em São Paulo.
Um vaqueiro brasileiro após uma competição de “pega do boi” na caatinga, nas proximidades de São Sebastião do Umbuzeiro, no estado da Paraíba. A caatinga é o maior bioma de floresta seca da América do Sul e uma das regiões mais ricas em biodiversidade do mundo.
Melancias com suásticas esculpidas na casca são vendidas em uma barraca na avenida principal de Inajá, cidade de Pernambuco conhecida como a “Capital Nacional da Melancia”.
Lixo e garrafas vazias encontrados na zona rural de Orocó, município localizado no Sertão do Nordeste brasileiro. O Sertão é um vasto território de interior marcado pela vegetação de caatinga e por uma economia baseada, em grande parte, na agricultura familiar de sequeiro. A região fica distante do litoral atlântico, onde os portugueses estabeleceram seus primeiros assentamentos na América do Sul no início do século XVI.
Guaribas, Piauí — Em 2003, durante o primeiro mandato do presidente Lula, foi aqui que o programa “Fome Zero” foi lançado, marcando o início de uma política nacional para combater a fome no Brasil.
Vaqueiros — os tradicionais cowboys do Nordeste — se reúnem para comer farinha com carne seca antes de uma competição de pega de boi na caatinga, perto de São Sebastião do Umbuzeiro, no estado da Paraíba. A caatinga é o maior bioma de floresta seca da América do Sul e um dos mais ricos em biodiversidade do mundo.
Acúmulo de lixo em uma comunidade da periferia do sul de São Paulo.
Crianças Yanomami brincam na chuva, abrigando-se sob uma lona plástica na comunidade de Surucucu.
Ricardo Rafael (16) com seu irmão Silvano Rasta (15) em Passé de Goiás.
Um estivador descarrega cestos de açaí provenientes das ilhas ao redor de Belém, nas proximidades do mercado Ver-o-Peso, no Pará.
Mercado Ver-o-Peso em Belem, no Pará.
Sangue de uma vaca recém-abatida em um frigorífico em Uruará, Pará.
Uma criança almoça sentada no chão dentro de sua casa simples, em uma comunidade ocupada em Arapiraca, no interior rural do estado de Alagoas.
Uma família do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) vive em uma casa improvisada no acampamento Eduardo Galeano, próximo a Canaã dos Carajás, no Pará.
uma bandeira vermelha desgastada da FNL (Frente Nacional de Luta) tremula sobre um acampamento de trabalhadores sem terra nos arredores de Arapiraca, no interior rural de Alagoas. O país carrega hoje a triste marca de uma das maiores concentrações de propriedade de terra do mundo: apenas 1% da população detém quase 50% das terras agricultáveis.
Vista aérea do acampamento Terra e Liberdade, nas proximidades de Parauapebas, no Pará, administrado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O acampamento foi criado em novembro de 2023, após a expulsão de famílias do MST de uma área privada pertencente a um pecuarista local, que o movimento havia tentado ocupar.
Máquinas operam na área de produção do S11D, onde o minério de ferro é separado e beneficiado antes de seguir em trens para transporte. O S11D — ou Serra Sul — é administrado pela Vale na Serra dos Carajás, Pará, e é o maior projeto de mineração de ferro do mundo, com capacidade anual de 90 milhões de toneladas. Instalado dentro da Floresta Nacional de Carajás, o complexo abriga um dos depósitos de minério mais ricos do planeta.
Vista da comunidade Yanomami na aldeia Surucucu e de suas casas tradicionais.
Vista da Vila da Barca, comunidade de palafitas e conjunto de habitação social em Belém, Pará. Um novo emissário de esgoto passará nas proximidades, mas não atenderá os moradores, que seguem vivendo sem acesso a saneamento básico.
Um vislumbre das margens áridas do rio Tumbira, impactadas pela seca do rio Negro, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Negro, em Iranduba, no estado do Amazonas.
Vista da comunidade periférica da Brasilândia, na zona norte de São Paulo.
Ruínas de casas destruídas pelo avanço do mar em Atafona, no litoral norte do Rio de Janeiro, uma cidade que há décadas sofre com a erosão costeira extrema. As estruturas de antigas residências, antes cheias de vida, hoje estão parcialmente submersas em um mar de areia, após perderem suas defesas naturais devido à intervenção humana. Enquanto a praia continua a recuar, a cidade enfrenta as consequências de um desenvolvimento insustentável ao longo de uma faixa costeira cada vez mais frágil.
A carcaça de uma vaca no leito ressecado do Lago Puraquequara, próximo a Manaus, evidencia o impacto profundo da seca de 2023. A frequência e a intensidade cada vez maiores das estiagens na Amazônia têm provocado uma queda drástica nos níveis dos rios e lagos, interrompendo atividades agrícolas, agravando as dificuldades dos produtores locais e revelando a crescente vulnerabilidade da região aos efeitos das mudanças climáticas.
Uma refeição típica amazônica com açaí, peixe tambaqui, farofa, arroz e feijão, servida em um restaurante na Ilha do Combu — uma comunidade ribeirinha localizada do outro lado do rio, em frente a Belém.
Um pescador da comunidade quilombola de Pixaim, localizada no Parque Natural dos Lençóis Alagoanos, no delta do Rio São Francisco, em Alagoas. Habitada por 43 famílias, a comunidade é tão isolada que, desde sua criação nos anos 1980, nunca teve acesso à rede elétrica. As mudanças climáticas, as hidrelétricas e a poluição têm aumentado a salinidade das águas do rio nesta região, provocando a redução dos estoques de peixe e afetando diretamente a subsistência dos pescadores e das comunidades locais.
Ruínas de uma casa destruída pela erosão costeira em Atafona, no norte do Rio de Janeiro. O avanço extremo do mar enterrou antigas casas sob a areia, após a perda das defesas naturais da costa — resultado de décadas de intervenções humanas. A cidade enfrenta hoje os efeitos de um desenvolvimento insustentável, que prejudica a economia local e afeta diretamente a vida dos pescadores.
Destruição e vegetação queimada dentro da Floresta Nacional do Jamanxim, no estado do Pará.
Um homem com um ferimento sangrando na cabeça caminha pelo mercado do Ver-o-Peso, em Belém, Pará.
Na comunidade de Palimiu, uma mulher Yanomami utiliza uma máquina para moer mandioca, que depois é seca em cestos antes de ser cozida. A mandioca é um dos alimentos básicos nas aldeias Yanomami e sustenta grande parte da sua alimentação cotidiana.
praia do Arpoador, no Rio de Janeiro.
Meninas brincam entre os escombros depois que sua casa foi destruída durante a remoção que desalojou mais de 200 famílias da ocupação Penha, na zona norte de São Paulo.
Após os atos violentos de 8 de janeiro 2023 em Brasília, apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro invadiram o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal, deixando um rastro de destruição e esculturas quebradas
Um macaco permanece dentro de uma espécie de jaula improvisada feita a partir de um carrinho de supermercado, na comunidade Guarani Kaiowá retomada de Yvu Vera 2, próxima de Dourados e da Reserva Indígena de Jaguapiru. A comunidade enfrenta intimidações constantes e sucessivas tentativas de despejo realizadas pela polícia.
Maria, mãe solo de uma criança com síndrome de Down, vive em um barraco na Ocupação Anchieta, uma comunidade ocupada na zona sul de São Paulo.
Boa Vista, Roraima.
Uma mulher sob efeito de álcool e transe espiritual na praia do Rio Vermelho, em Salvador, durante as celebrações de Iemanjá — a orixá das águas salgadas, amplamente reverenciada nas religiões Candomblé e Umbanda. A festa reúne milhares de devotos que vão à orla oferecer presentes, fazer pedidos e buscar as bênçãos da divindade.
Um prato com peixe, cigarros e uma cerveja foi deixado como oferenda na praia do Rio Vermelho, em Salvador, durante as celebrações de Iemanjá, divindade das águas profundamente reverenciada no Candomblé e na Umbanda. A prática de deixar presentes no caminho remete também a tradições do período da escravidão, quando pessoas escravizadas deixavam alimentos e pequenos objetos para orientar outras em fuga ou para alimentá-las ao longo das rotas de escape.
Abenilda Fernandes, 30 anos, parece exausta após quatro dias sem comer em sua palhoça, próxima à comunidade indígena Guarani Serrito, em Mato Grosso do Sul. Como muitas pessoas na região, ela enfrenta insegurança alimentar causada pela redução de seus territórios, pelo isolamento e pela falta de oportunidades de trabalho. Abenilda convive com a fome há anos e, de forma trágica, perdeu sua filha de nove anos para a desnutrição há cinco anos.
Armadilhas de pesca vazias repousam entre os manguezais da Ilha de Maré, na Bahia, onde grande parte da população depende da cata de mariscos para sobreviver. Esse modo de vida está ameaçado por décadas de poluição industrial vinda de portos, refinarias e indústrias químicas do entorno. A contaminação das águas tem afetado o ecossistema e a saúde pública — estudos recentes detectaram níveis de metais pesados em crianças da região até quatro vezes acima dos limites recomendados pela OMS.
Oubenson Braga, de 3 anos, se esconde sob uma estrutura de madeira usada pela família para cozinhar na casa sobre palafitas em Santa Ana, Melgaço — uma comunidade ribeirinha marcada por profunda vulnerabilidade econômica. Sem acesso à energia elétrica, Santa Ana enfrenta frequentes situações de fome, e a família de Oubenson às vezes passa dias sem conseguir fazer uma refeição adequada.